O Corpo
O corpo estava
ainda lá, caído próximo à cama. O braço torcido para trás, o tornozelo cortado.
Dava para notar que não fora suicídio, não havia corte no pulso, nem frascos de
comprimidos pelo chão. Somente um corpo jovem já falecido, um belo defunto para
os Federais. Um cadáver só, em meio à
tarde de uma sexta-feira, dia dos namorados.
A cama estava desarrumada, o
lençol um tanto amassado, o travesseiro fora do lugar, o despertador soando,
quatro da tarde. Nenhum vizinho xereta, nenhuma janela indiscreta, só uma
certeza, a morte. Vinte e três anos mais ou menos ela tinha, enfermeira, muito
competente, morava só e um namorado tradicionalmente ciumento.
A chuva cai
lentamente sobre o telhado da casa, o enorme cajueiro balança suas folhas com o
vento brando, a água na calçada leva ao bueiro folhagem do dia. O telefone toca
fazendo eco no hall e somente uma mensagem agora na secretária: “ligue para
mamãe querida”.
Oito da noite, um belo ramalhete bloqueia a visão do olho
mágico da porta da sala, era o tal namorado, debaixo do braço uma caixa de
bombons, ele não se lembra do que aconteceu ontem ou não achou um bom álibi.
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