Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, uma história de amor.

No meio da vasta e prestigiada obra literária do escritor Jorge Amado, encontra-se esta joia rara que só poderia ter surgido em um momento muito especial de sua vida. Trata-se de uma história de amor criada especialmente para presentear seu filho, João Jorge, no seu primeiro aniversário, em 1948. Jorge Amado morava em Paris com a mulher, Zélia Gatai, e o garotinho. 
Colocado no meio das bagulhadas infantis, o texto se perdeu e só reapareceu em 1976. Foi quando o artista plástico Carybé o leu, e resolveu ilustrá-lo. Diante disso, Jorge Amado cedeu aos pedidos e publicou sua obra secreta. Carybé foi um pintor, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista, pesquisador, historiador e jornalista argentino naturalizado e radicado no Brasil. Durante a época que morou no Rio de Janeiro, foi escoteiro. Lá, era costume cada um ser identificado por um nome de peixe e ele recebeu o seu apelido (nome de um tipo de piranha). 
É a história de um romance impossível, uma paixão avassaladora e fatal entre um gato malhado, tido como um ser mal e egoísta, e uma andorinha alegre e vibrante, que arrasa corações por onde passa. Um amor fadado a terminar mal.. Uma história que o Vento contou para a Manhã, que teve de contar para o Tempo para ganhar uma rosa azul, e toda criança merece conhecer. Toda criança e todo adulto também. O temperamento do Gato Malhado não era nada bom: bastava aparecer no parque para todos fugirem. E ele ia tocando a vida com a indiferença habitual. Até que, chegada a primavera, o Gato nota que a Andorinha Sinhá não tem receio algum dele. Foi o suficiente para que dali nascesse a amizade dos dois, que se aprofunda com o tempo. 
No outono, os bichos já viam o Gato com outros olhos, achando que talvez ele não fosse tão ruim e perigoso, uma vez que passara toda a primavera e o verão sem aprontar. Durante esse tempo, até soneto o Gato escreveu. E confessou à Andorinha: Se eu não fosse um gato, te pediria para casares comigo. Mas o amor entre os dois é proibido,não só porque o Gato é visto com desconfiança, mas também porque a Andorinha está prometida ao Rouxinol. 
Jorge Amado colheu essa história de amor de uma trova do poeta Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das Sete Portas, em Salvador, e a colocou no papel com o tom fabular dos contos infanto-juvenis. A história é um universo de afeições e toca diretamente no problema do preconceito e da intolerância. E, apesar de tudo, traz a mensagem positiva de que amar vale a pena. Personagens que condenam o amor impossível...A moral deste livro é que o mundo só vai avançar e ser melhor quando as pessoas aceitarem as suas diferenças, sejam elas raciais, sociais, educativas... 
“O mundo só vai prestar Para nele se viver No dia em que a gente ver Um gato maltês casar Com uma alegre andorinha Saindo os dois a voar O noivo e sua noivinha Dom Gato e Dona Andorinha”. Uma fábula na verdade, sobre o amor impossível de um gato solitário. E se o gato fosse você? O livro é extraordinário, um desencadear magnífico do amor e à evolução que este sentimento vai sofrendo, as alterações comportamentais que vai provocando nos seus protagonistas ao longo das quatro estações do ano. 
O livro encanta e mostra que nem sempre existe um final feliz. Amei!



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