Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Reflexão



...Porque viver é meu melhor castigo...

(...)

REENCONTRO AO LUAR





Foi a Lua quem me disse:
Ela te espera, deixa de tolice rapaz!
Eu mesma desenhei a sua sombra
que se alonga tal que sua esperança.

Também fui eu quem fez brilhar
uma lágrima solitária,
carregada de amor e ternura,
que rolou preguiçosa e sofrida,
riscou silenciosa o seu rosto
e se escondeu entre os seios,
cheios da sua ausência,
que esperam, generosos, o seu amor.”

Então eu senti, como uma lufada de vento,
a minha chama se avivar,
pela sensação gostosa de ser amado,
de ouvir o amor sussurrado,
cantado pelo vento no meu ouvido,
da menina ávida de mim.
E do tamanho do seu fascínio
eu me dei conta, enfim.

E o meu barco rumou sereno,
apressando a lentidão do tempo,
trazendo seu homem de volta ao cais.

E, sob o olhar prateado da lua alcoviteira,
estreitei o seu corpo ao meu
e me fundi, feliz, com meu amor.


ahlanaC (Canalha)

Estive pensando nestes dias sobre canalhas. E também por coincidência passou um canalha em minha vida. Um não, vários! Como passa na vida de qualquer um, todo dia. Canalha, uma pessoa sem moral e verdadeiramente um patife. Canalha também é o rótulo que a sociedade dá ao homem que procura a mulher com finalidades outras que não os compromissos sócio-conjugais (namoro, casamento). Sedutor, possui habilidade para relaxar suas parceiras a ponto delas se sentirem desejadas por um homem que conhece a alma feminina e suas fragilidades. 

O canalha aparece quando a mulher deixa de se sentir especial pelo homem em questão. Tenho procurado uma definição para tal palavra e se poderia, de alguma formar, mudar este rótulo. Creio que não há! Desde que o indivíduo foi tachado por estas piores qualidades, não tem muito o que fazer mesmo. Adorei o texto do Jornalista Chico Garcia, que dia: O canalha não tem jeito mesmo. E nunca terá. Ele é o sociopata do amor. Inspira confiança e expira mentiras. E você, na falta de algo melhor, vai respirando esse ar sedutor. 

No alto dos seus 1,70m de mulher independente, forte e sedutora, você sempre acha que pode consertá-lo. Esqueça, você está apaixonada e o antídoto para o canalha é o desprezo. O canalha finge que não é um canalha. Posa de bom moço, carente, apaixonado e infeliz. E você acredita ser a salvação dessa alma perdida, depois de tantas desilusões amorosas. O canalha cria uma nova identidade, mas sem registro em cartório. Ele age por instinto, não sabe ser de outra forma. A sedução faz parte da sua sobrevivência emocional. Ele é uma fera e você o prato de comida. Mas ele tem um jeitinho tão meigo, uma conversa tão bacana, não é mesmo? O canalha é inteligente, sagaz, enigmático e te faz rir. Pronto, o cara perfeito. O único porém é que ele nunca será completamente seu. Amar um canalha é entrega sem devolução. A submissão é ingrata: revolta, mas apaixona. O canalha é o disfarce da conquista, máscara do engano. E é justamente isso que te encanta nele. Ele sorri em versos, fala em melodia e te decifra com os olhos. O canalha parece ter o manual de instruções para seduzir. E faz isso sem nenhuma força. Você consegue ver sensualidade nele caminhando na rua, tomando whisky, acendendo um cigarro e até dirigindo. 

O canalha nem bonito é, mas parece ter nascido para desafiar o seu bom gosto. Ele faz você escutar músicas que você nem sabia que existiam, faz você pesquisar textos e frases que traduzam o que você está sentindo. Faz você acordar de manhã e lembrar dele, pelo menos, na hora de passar o perfume. O canalha não pede, manda. Você adora e depois se odeia. Tenta escapar e horas depois, cai numa armadilha. Mas não fique triste, o canalha é o “teste drive” para qualquer corrida amorosa. É pré-requisito para as provas de amor. 

Toda mulher precisa de um bom e cruel canalha no seu caminho para encontrar o próprio valor. Somente depois de alguns meses mendigando atenção e se alimentando de mentiras cobertas por uma camada de ilusão, que você vai encontrar a correspondência do seu amor. Não nele, claro. Mas antes do coração achar o endereço certo para se apaixonar, é preciso primeiro ter garantias. É a conquista do chamado amor próprio. Amar um canalha faz parte da vida, é a construção de si mesma, leitura obrigatória para o vestibular sentimental que vem pela frente. 

Estar com um canalha é mais do que necessário. É gostoso”. Vivemos a “Era Canalha”, a verdade é esta. Não podemos rotular apenas os homens casados, e sim a sociedade, o mundo. E existem muitos tipos de canalhas. Por Bezerra da Silva: “ Canalha, tu é um verdadeiro canalha. Rapinou o dinheiro do povo, Saiu esbanjando. E fazendo bandalha”. Música dos Titãs: Não tarda nem falha. Apenas te espera. Num campo de batalha. É um grito que se espalha. É uma dor. É uma dor canalha. Que te dilacera. É um grito que se espalha. Também pudera. 

Canalha! No livro de crônicas do escritor gaúcho Fabrício Carpinejar, ele mostra que o canalha mantém seu charme sexual. Interessantes frases: “Quando eu penso que já conheci todos os babacas e canalhas do mundo, percebo que a espécie é infinita”. “E há mulheres tão canalhas que deveriam ter nascido homens”. E termino contemplando Millôr Fernandes : “Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos”. 

Mais será que a culpa é realmente inteira do canalha? Ele pode escolher o tipo que quer ser. E quando está completamente inteiro, pode ser você ou... Eu.


Moço

A vida passa correndo, eu sei. E realmente estou vivendo? Ou apenas remexendo os velhos baús de histórias? Decifrando as inúmeras palavras soltas e ignorando as que estão no ar... Deus é generoso, e embora eu seja apenas uma poetisa louca, com pele aveludada, uma errante singela e apaixonada, uma amante desnuda, escondendo amores perfumados, pensamentos que abocanham-me, feito gula infantil. Acelera-me o cio, fora de prumo, gritos roucos, atordoada de amor. 

Mas, minh’alma ainda debruçada na janela da solidão, eu nua, tentando atrair o moço bonito do outro lado da rua. E penso como seria nós dois abraçados e fadigados... Sem razão, feito andar nos trilhos, enamorados. Isto seria uma alegria macia, me arrepia a nuca em pensar, numa intensa ansiedade, feito jogo provocante, e sigo extasiada neste fervor absoluto... Neste querer de enredos breves e suor derramado no corpo. Mais agora só penso nos beijos quentes, nas mãos tateando minhas curvas e uma simples taça de vinho sobre a mesa. 

E embriagada deste sonho pouco, que estreita minha tristeza, tento não dormir sobre a colcha colorida da solidão, porque agora tenho sede e não quero a insônia e seu veneno estúpido, sinto-me encharcada de volúpias sem fim, em mim, delicadamente... E banhada, feito flor que se abre na primavera e perfuma pedestres na calçada, sigo pulverizando um sabor carente, delírios... Numa cadeia frenética, exalando minhas agonias, e desatando todos os meus desafetos, pétala por pétala, todos os tesões e palavrões da minha língua afiada e doce. 

E os restos de mim, os espinhos sangrentos, enrosco em meus passos, antes miúdos e agora apressados na noite que aponta na minha janela. Isto sim é amor! Porque me dói inteira. Porque ainda estou faminta de calafrios, porque ainda sou abelha sem mel. Isto é loucura! Disto também sei. Porque me delicio nas frases perversas de desamor. E um simples café pela manhã já não basta, não me desperta para o dia, e lampejos de solidão ainda me encontram, tento me esconder e não sei onde, viajar para fora de mim é inútil. 

O moço já se foi? Me lambuzo com medos bobos e me disfarço com qualquer motivo, porque agora sou o fracasso. Torname-ei sã, deixando meu eu antiga ir embora, e prefiro a liberdade serena, fitando apenas um gozo tosco e fora de moda. Porque estou à flor da pele. Porque não quero derramar lágrimas na minha pele jovem novamente. Amor... Amor... Amor... 

O refrão da música soa repetidamente em minha memória, feito lembrete tatuado na palma da mão. Vou continuar o remendo no pobre coração que ainda me resta, enquanto aguardo o moço voltar.

O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, uma história de amor.

No meio da vasta e prestigiada obra literária do escritor Jorge Amado, encontra-se esta joia rara que só poderia ter surgido em um momento muito especial de sua vida. Trata-se de uma história de amor criada especialmente para presentear seu filho, João Jorge, no seu primeiro aniversário, em 1948. Jorge Amado morava em Paris com a mulher, Zélia Gatai, e o garotinho. 
Colocado no meio das bagulhadas infantis, o texto se perdeu e só reapareceu em 1976. Foi quando o artista plástico Carybé o leu, e resolveu ilustrá-lo. Diante disso, Jorge Amado cedeu aos pedidos e publicou sua obra secreta. Carybé foi um pintor, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista, pesquisador, historiador e jornalista argentino naturalizado e radicado no Brasil. Durante a época que morou no Rio de Janeiro, foi escoteiro. Lá, era costume cada um ser identificado por um nome de peixe e ele recebeu o seu apelido (nome de um tipo de piranha). 
É a história de um romance impossível, uma paixão avassaladora e fatal entre um gato malhado, tido como um ser mal e egoísta, e uma andorinha alegre e vibrante, que arrasa corações por onde passa. Um amor fadado a terminar mal.. Uma história que o Vento contou para a Manhã, que teve de contar para o Tempo para ganhar uma rosa azul, e toda criança merece conhecer. Toda criança e todo adulto também. O temperamento do Gato Malhado não era nada bom: bastava aparecer no parque para todos fugirem. E ele ia tocando a vida com a indiferença habitual. Até que, chegada a primavera, o Gato nota que a Andorinha Sinhá não tem receio algum dele. Foi o suficiente para que dali nascesse a amizade dos dois, que se aprofunda com o tempo. 
No outono, os bichos já viam o Gato com outros olhos, achando que talvez ele não fosse tão ruim e perigoso, uma vez que passara toda a primavera e o verão sem aprontar. Durante esse tempo, até soneto o Gato escreveu. E confessou à Andorinha: Se eu não fosse um gato, te pediria para casares comigo. Mas o amor entre os dois é proibido,não só porque o Gato é visto com desconfiança, mas também porque a Andorinha está prometida ao Rouxinol. 
Jorge Amado colheu essa história de amor de uma trova do poeta Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das Sete Portas, em Salvador, e a colocou no papel com o tom fabular dos contos infanto-juvenis. A história é um universo de afeições e toca diretamente no problema do preconceito e da intolerância. E, apesar de tudo, traz a mensagem positiva de que amar vale a pena. Personagens que condenam o amor impossível...A moral deste livro é que o mundo só vai avançar e ser melhor quando as pessoas aceitarem as suas diferenças, sejam elas raciais, sociais, educativas... 
“O mundo só vai prestar Para nele se viver No dia em que a gente ver Um gato maltês casar Com uma alegre andorinha Saindo os dois a voar O noivo e sua noivinha Dom Gato e Dona Andorinha”. Uma fábula na verdade, sobre o amor impossível de um gato solitário. E se o gato fosse você? O livro é extraordinário, um desencadear magnífico do amor e à evolução que este sentimento vai sofrendo, as alterações comportamentais que vai provocando nos seus protagonistas ao longo das quatro estações do ano. 
O livro encanta e mostra que nem sempre existe um final feliz. Amei!



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