Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Solidão


A solidão ainda é fria, sinto esta velha amiga tão ardente dentro de mim. As paredes da casa vazias me envolvem, e abasteço-me de tragos do passado e singelos goles de lembranças, todas elas... E eu que achava que o amor fazia parte de mim, me enganei profundamente, novamente. Então embriago-me, mesmo sem vinho bom, apenas um teatro febril com a taça vazia na mão. 

Estou presa no calabouço das minhas delícias, dos pesadelos que sempre consumiram a minh’alma; e ela grita... Grita em tons agudos, atordoando-me. Ficarei presa no meu próprio conto de fada? Estou presa na história de princesa que um dia me deleitei, e não há príncipe e nem sapo. Palavras malditas estão presas na garganta, feto nó apertado... A solidão é capaz de coisas assim, estúpidas... Entra de mansinho e depois não quer ir embora. E quando vai, nem adeus ou um aceno bobo, somente deixa marcas, sofreguidão e desespero. Queria um basta! Desejo poder dormir tranquila, desejo olhar-me no espelho sem um olhar triste e amargo. Desejo não sentir este desamor que nutri minha agonia. Desejo não sentir este dessabor suave e gentil. 

O mostro sombrio que adormecia dentro de mim acordou e sente fome, sente sede. Sente raiva também! Tentei dobrar meus desejos, e redobrar meu amor, feito origami... Até tentei ajustes e prumos para salvar o que já havia se perdido, e papel quando amassado uma vez, nunca mais se torna igual. “A criação e a destruição são processos interdependentes, existe uma ausência de vida na escuridão da terra que recebe os mortos, mas também é a terra escura que abriga e promove o desabrochar das sementes, que renascem - assim como os mortos nela enterrados - para uma Nova Vida”. A minha solidão ainda é imatura, e aguardo tranquilamente que nos tornemos verdadeiras. E espero ansiosamente que ela me torne uma outra pessoa, que me torne artista, e com esta terapia tão lúcida entre nós, que eu me torne muito mais que meros rascunhos e rabiscos tolos. 

Quero ser guerreira e engajar com avidez no meu melhor combate, nesta deliciosa guerra que é o viver. Apesar de querer tanto lutar na guerra, queria mesmo, somente paz. Não paz de hastear uma bandeira... Queria não ter dentro de mim estas coisas todas que sinto agora. Este turbilhão de coisas inúteis em minha volta, estas gargalhadas falsas. 

Quero colo! “Sou uma gota d’água, sou um grão de areia”

Pedra




A pedra rola de um lado para outro,
tropeço, caio...

Num estalar de dedos tiro o segundo lugar,
meu pensamento tarda.

Eu falho, corro, grito.

Corro.


A pedra cai, rolo.
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