Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

FAAT Faculdade --> Formatura do meu filho S.Henrique

"O verdadeiro homem mede a sua força, quando se defronta com o obstáculo". 
Antoine de Saint-Exupéry











Sonho de moça_Cordel Parte 1



Sou uma moça simples/Tenho um pouco de Pimentel/Nessa peleja quero rimar/Tão rápido feito um corcel. Sou poetisa afirmo/Mais não escrevo cordel. Vou tentar muito e caprichar /Jus a Francisco das Chagas Batista/Que era Editor e sabia inventar/Era nato e um verdadeiro artista/Da xilogravura nem vou falar/Ele era o melhor Cordelista. Esta história é muito nova/era o ano dois mil e seis/Já contaram a mesma história/É agora a minha vez/Já é tarde tá na hora/Escrevo assim: Era uma vez/Conheci um moço bom/Lá no Rio de Janeiro/Piloto de um bonito Baron/Mais tinha pouco dinheiro/Juntamos nossos trapos/E o nosso amor verdadeiro/Pra começar tudo do zero/Me convidou para outra cidade/Pra tentar tudo outra vez/Eu disse que eu não tinha idade/O rapaz outra vez pediu Era pra nossa felicidade. /Deixei família e emprego/Amigos e toda cambada/O que seria de mim/Se eu não tivesse apaixonada?/O menino veio comigo/E deixei lá uma saudade danada. /O outro filho deixei com o pai/Só no começo foi isso/Doeu e sofri um bocado/Mais depois não pensei nisso/O filho vinha sempre me ver/Nas férias era o seu compromisso. Sou do Rio de Janeiro/E sei que lá não posso ficar/E toda vez que penso assim/Fico doida e vou chorar/Minha Terra é muito querida/Vou tentar a vida em outro lugar. Na mala do carro apenas/Poucas roupas e um celular/Poucas malas e lembranças/Os detalhes nem vou contar/Aquele Corsa vou valente/Disso vou sempre lembrar. Passamos por buracos no chão/Lombadas que vou te contar/As estradas muito esburacadas/Pro povo mesmo se lascar/Quase quebramos o carro/E o menino atrás só fazia chorar. Paramos para beber água/comprar milho e descansar/Será que Deus ouve a reza?/Perguntava o filho sem parar/A cidade é bem longe/Mais Deus está em todo lugar. Nem consegui fotografar/Todas s belezas que eu via/Nem vou parar para te agradar/O tal moço assim dizia/Tenho hora e dia pra chegar/Deixe isso pra outro dia. Fiquei com uma raiva danada/Um pouco triste e insatisfeita/Eu não mereço tudo isso/Queria uma viagem perfeita/Fotografar era minha sina/Queria estar satisfeita. A viagem era muito longa/E o cansaço mesmo de matar/E só o moço é que dirigia/Eu só sabia cantarolar/Mais a noite a gente parava/Para poder um pouco descansar. E não aguento nem lembrar/manhã do comprimido. Eita menino danado/Que pra tomar foi só no grito/Tive que dar uns safanões/Me arrependo admito. Depois de dias pela estrada/Chegamos em João Pessoa/Muita coisa pra se fazer/Não dá pra ficar a toa/Conheci toda família do moço/De gente fina a gente boa. A cidade é muito bonita/Mais aqui não vou ficar/Tem lindas e belas praias/É tudo de se encantar/Mais meu destino me aguarda/É lá em outro lugar. Ganhamos muitos Presentes/Jantar e um chá de panela TV talheres e uns lençóis/Embrulhamos tudo com cautela/O caminhão ficou bem lotado/Esta ação sempre vou lembrar dela. E vamos nós outra vez /Pegar a estrada de novo/Ter muitas mudanças, talvez/Seguir nosso lance amoroso/Esquecer o passado ruim/E começar tudo com gosto. Dos lados apenas matos /Na frente apenas estrada/Céu limpo e nuvem rara/Estava ansiosa com a chegada/Conhecer esta Terra querida/Tão bem vista e bem falada. Pensei por um momento/Onde eu vou morar?/Parece o fim do mundo/Não vou me acostumar/Uma casa longe da outra/Aqui não é o meu lugar. A cidade que vos falo/Se chama Mossoró/Terra boa e queridaqVinda do índio Monxoró/Depois que a conheci/Virou pra sempre meu xodó. Terra de Santa Luzia/Do Petróleo e também do sal/Do Sol forte e de terra firmeqSua vista é colossalqJamais esquecerei de ti/Minha segunda Terra Natal.

CONTINUA...




Cartas de Ana


Querido Deus. Hoje é somente um desabafo. Nada tenho a lhe pedir e não tenho algo planejado. Sou Ana. Apenas uma pessoa, simples Ana, feito qualquer Maria, tentando abrir o baú com pequenas chaves que me cortam os dedos. O baú contém todos os segredos para amenizar a minha dor. Uma dor imensa e calma, feito o mar em dias atípicos. 

Há neste baú sorrisos discretos e facas afiadas. Qual chave mágica me guiará para sair deste sonho, deste punho fechado na face? Ela está escondida no molho discreto de pingente antigo? As tentativas são diversas e constantes... E em cada amanhecer tenho tentado não ser tão eu. Estive tentando chorar, na verdade e percebi o quão difícil é. Não é como brincar de teatro na frente do espelho, não é tão fácil quanto parece. Gostaria de lacrimejar um pouquinho de todos meus excessos daqui de dentro, expulsar uma parte aqui em mim que machuca, me que faz perder o ar. 

Gostaria de gerar um alívio discreto, controlável. Gostaria de desencadear de dentro de mim, todas as ideias tolas e tudo incrivelmente sinistro que me persegue. Tenho sido perseguida por esta tristeza e isto tem me assustado, parece não ter um fim. Sou ainda Ana, matuta tentando abrir a fechadura dos meus desejos, incertos. Deus, me sinto tão fraca diante da possibilidade de me libertar. 

Por que tanto caminhar e no fim me atirar ao chão? Joelhos quebrados, rabiscados do asfalto negro. Que Ana estúpida agora existe em mim? Sinto que engulo lágrimas e embaraço cada vez mais meus atalhos em minha mente. Jogar as chaves fora? E minhas tentativas, foram em vão? Pergunto-me, me pergunto... Sufocada na própria agonia, que nem pai ou mãe se importariam. Estive somente tentando chorar, e ainda aqui virgem, com fome e frio, tento chorar, como se um choro forte me fizesse acreditar numa outra história ou me tirar deste medo, deste apuro em abrir meu baú, meu medo. O jeito é rasgar de mim este sufocar macabro de uma criança perdida, uma moça mal dormida. 

Sinto-me agora um minuto, um momento tão curto, uma memória não definida, um fio em curto. O adeus acenado, a vida quebrada, a saudade infinita, o amor, um espírito, um voo rasante... Tudo é tão bem trancado, para uma alma apodrecida não tomar. Tem uma razão merecida para a coruja me vigiar, adivinhar minha morte com o seu piar? Talvez. 

Querido Deus, estou o baú no canto novamente, coberto com relva e flor. Cubro de amor e verso. Volto para o escuro e continuo na tentativa de chorar, desapertar este nó da garganta. 

Sou Ana, gladiadora nesta batalha que é viver, e misteriosamente uma escrava de mim mesma. E percebo francamente, que no fim das contas, nada basta e também não importa muito e que o baú com seus mistérios abrirá, somente com o tempo.

Contos que conto --> Despedida




Hoje me despeço de ti, de mim. Sem acenos medíocres, nem beijo nas bochechas rosadas, as suas ou as minhas. Adeus também não levará na sua memória, nem seu adeus a mim, nem o meu a mim mesma. Prefiro esta metamorfose de delícias que sinto, que tenho, que fantasio e que poderei nunca esquecer. E hoje minha máscara me caiu bem, esta máscara que não é um mero adereço, ela disfarça minhas cicatrizes, minhas lágrimas escuras. 

Não esquecerei de ti, nem você de mim. Esta transformação de um ser em outro, de mim em você, de você que carrego em meu balaio térmico, todos seus deleites estarão nele, e de alguma forma estarei em você, talvez presa numa caixa fosca de papelão, estarei nela mesmo assim, cintilada, etérea. Estarei num purpurinado colorido, com letras soltas, recitando poesias pra você, sim, de algum lugar ainda não definido. Estarei em ti, tenho esta certeza, de alguma forma miúda, estarei envolvida em teus braços, no meu desassossego, na minha inquietude perversa, nas minhas manias de só querer. 

E esse amanhã que nunca chega, sim o dia da minha partida, da despedida nua e crua, sinto um monte de coisas, sinto uma foice me cortar a garganta, sinto o sangue quente descendo pelo pescoço. Hoje me despeço de ti, agora já é o amanhã que nunca almejei, sem fingimentos, sem delícias, deixo-te. Deixo-te, nossos elos se partem, deixo uma parte minha, uma parte invisível e você, fica um pouco em minhas poesias afiadas, as perversas que saem da minha boca. Minha boca que tanto mordestes. Hoje me despeço de ti, na verdade não querendo ir, mais a parte de mim, a que me domina, esta outra parte, errante e indiscreta, que se apoderou do meu lado fraco, esta parte quer sair, fugir, ir. 

Estou indo querendo ficar. Aproveito este dia, que já é noite, celebrarei meu ritual, esta volúpia ardente e irei, irei por aí feito um avoante de asa partida, faltando-me penas. O baile de máscaras continua, eu num ápice esfumaçado, parto. Parto “sem eiras e beiras”, estros, restos e fadigas. 

Sigo por um caminho que não se vê, não se pode ver e trilhas estreitas, um chão impregnado de cinzas, de ossos pontiagudos, de mortos. Sem beijo doce e quente na face ou nas mãos. Hoje me despeço de ti, na verdade de mim, porque minha máscara de hoje não teve serventia, Ela me aguarda no final da festa, sua fantasia a mais bela da noite, Ela me ronda, me espera, me envolve no seu perfume barato, a morte.


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