Ouço a vida bem
tranquila. Aqui dentro de mim, eu sinto que a vida é muito mais bela, mais
infinita. Deliro em mim? Um delírio manso... Delírio suave.
E delirando vou
caminhando pela rua amarela, aquela rua atrás dos meus sonhos de menina
travessa. Gritar já não vale mais choramingar, apenas vale saltitar nos
paralelepípedos da rua. Da rua que me torna feliz. E cruzar a esquina que me
torna tão moça, me orna tão feliz.
E vou ouvindo a vida. Aqui dentro de mim ela
fala tão alto, certamente um cantar de letra bonita e refrão encantador. A rua
tão bela faz parte de mim. Apesar de tão gasta, ela é minha companheira faz
tempo. E mesmo com a garrafa na mão e soluçando sei lá o que, ela estava lá
comigo, me aparando. E mesmo feia uma beberrão maldita, a rua amarela me ampara
e me deita em seu chão. E a noite fica mais tranquila assim. E sinto que pela
manhã me sinto outra.
Feito ressaca bendita... E as rugas me rasgam. E vou
cambaleando novamente de um lado e outro da minha própria vida, com a ferida
velha sangrando e o sangue escorrendo... Escuro... Envenenado. E ouço a vida
dentro de mim, ela é feito um sopro gostoso no rosto e gosto de picolé de caju
em minha boca. Nem sei por que gosto dela tanto assim.
Nem sei se ela realmente
gosta tanto de mim também. Será a rua amarela minha vida? Por que tal cor? É
apenas um caminho que me leva daqui pra li ou acolá. Melhor é viver só. Sem
paradeiro ou caminhos... Sem ruas e suas cores sinistras. Sem ir ou vir. Só
sinto esta vida estranha aqui dentro de mim.
Sinto que sou dela e ela quer muito de mim.
Não minhas insônias ou meu
trocar de pernas... Ela quer minhas pétalas e minhas poesias, minhas ideias
tolas, minhas lágrimas engolidas. E por mais que eu seja desbalanceada em
minhas crônicas, faço parte do seu plano. Seus planos rosa, seu não guerrear
com o mundo.
E ouço suave sua voz dentro de mim. Isto me faz frear meus
pensamentos errôneos, meu paladar amargo e até meus palavrões desmedidos. E
assim não me sinto no breu ou jogada na lama. Deixo a garrafa de lado mais uma
vez. Rabisco novas páginas e penso no amor. Só assim viverei. Só assim
saltitarei na rua dos meus sonhos. Mesmo sozinha.
Ouço a vida.
Mesmo errando
neste amor, mesmo embaraçando meus próprios rabiscos. E o embalo do balanço me
cai bem agora. E vive r assim tão sozinha...É uma dor finda...Que sempre está
rasgando por dentro de mim...
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