A máquina das minhas
ações está funcionando. Um tanto enferrujada, um tanto desajeitada. Molda o
homem em mim, narrado de versos e espelho quebrado. Miúdo e manso.
Um pouco é
bonito e outra parte é amor. Amor somente já bastava para viver. A máquina
retira de mim meus ruídos tolos e pouco e um punhado de medo. Medo da noite, do
uivo do lobo na ponta da montanha. Tira o medo da chuva repentina e do vento
bravo, da manhã quente e de flores murchas.
E sinto que já não posso ser só
homem, tenho de ser gente. Gente de grandes aventuras e de caminhos longos e
largos, perfumados. Não governo o que me criou, tenho apenas ideias, o pé firme
na brasa deste chão. A máquina não para. Não é possível desligá-la ou retardar
seu avanço.
Com ela sigo, cresço e floresço. Minhas ações estão contidas nas
cores que deslizam em suas correntes, nas peças estranhas que giram
freneticamente, giram feito sorriso infantil.
A cada dia sigo saltitante, feito
mochileiro perdido nas estradas, feito um cervo na mira do caçador. Sou caça.
Caça fresca e ordinária. Não sei quem realmente funciona melhor, se eu ou esta
máquina estúpida. Sou apenas um homem com esperança. Somente um homem.
Fugir?
Não... Sombras não fogem. Sou reflexo da minha própria agonia, a insônia cruel
que eu mesmo criei. Ou apenas um esqueleto ambulante que se esconde nas
aflições, no porão das incertezas? “Ser ou não ser?”.
A máquina ainda é o
melhor passatempo da minha mente, um esplendor mais forte que minha própria
dor. Hoje o dia começou cedo dentro de mim, a máquina em seu maravilhoso auge,
apogeu. Coloridos nas correntes mais intensos, sem ruídos ou paradas sinistras.
A máquina pulsa, eu pulso...
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