Estou reinventando as
muitas de mim. Resgatando todos os pedaços da minha infância, as lembranças
frias que me apertam ainda o peito. Começando pelos olhos cansados e mal
dormidos e uma pitada de humor, de amor. Estou colhendo amostras de mim e isto
me faz muito bem, me faz rir novamente. Meu lado espírito, terra, mãe, neném.
Estou de várias maneiras me criando, pintando o sete ao meu redor. Estou me
reinventando, este anjo caído, infinitamente perdido de mim. Este meu
merecimento, esta existência louca e farta, feito borboletas que enfeitam as
matas, estou assim me colorindo, moldando o universo inteiro, meu jardim.
Cansei desta terra pálida que piso, que tropeço dias e dias, cansei destes meus
olhos sem cor. Evoluir por dentro é o primeiro plano, sem me agredir com
palavras ou me farpar com as insônias desnecessárias.
Outro passo seria estar
bem armada, sem apegos as ignorâncias mundanas, sim, poderei mudar atitudes.
Seguir estes flashes de luz seria uma transformação imediata ou insana? Não.
Apenas uma reforma íntima. Eu, a Lindalva em mim, somente um espírito pairando
sobre a guerra.
Tomo meu banho de sangue diário e saio à procura de paz! Vou
rastejando, lutando com as sombras em todos os tipos de reinos, brigando com
monstros que saem pelas portas que deixam abertas por aí. Não hoje, por alguns
medíocres instantes não penso em matar ou morrer, hoje embainhei minha espada.
Esta noite minha missão é outra, minha arma secreta está suja de covardia, uma
linda lâmina que uso contra mim mesmo e me delicio nesta cruz que me faz cantar
ao dormir.
E todas as minhas ideias, estas recordações tortas e tolas, rolam
neste momento no abismo cintilado do meu quarto.
Mais um dia passo bem e pela
manhã apenas cacos do meu próprio corpo que cato ao acordar, miúdos e avessos.
E me sento na cadeira velha da varanda e penso no amor, só ele é capaz de me
mover daqui. Porque o que sinto já não basta, é um entrelaçar de passado e
presente, de palavras embaraçadas que me roçam na garganta, que fazem meu corpo
demente virar cadáver novamente.
As horas passas assim e eu meramente tentando
me reinventar. A lua lambe a noite novamente. Eu adormeço e perco a guerra lá
fora mais um dia. Mais Lindalva está salva dentro de mim.
Sulla Mino
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