O Cupido nos tempos primitivos é considerado um dos grandes
princípios do universo e até o mais antigo dos deuses. Representa a força
poderosa que faz com que todos os seres sejam atraídos uns pelos outros, e pela
qual nascem e se perpetuam todas as raças. Mitologicamente, não sabemos quem é
seu pai, mas os poetas e escultores concordam em lhe dar Vênus por mãe, e é
realmente naturalíssimo que Cupido seja filho da beleza.
Notando Vênus que Eros (Cupido) não crescia e
permanecia sempre menino, perguntou o motivo a Têmis. A resposta foi que o
menino cresceria quando tivesse um companheiro que o amasse. Vênus deu-lhe,
então, por amigo Anteros (o amor partilhado). Quando estão juntos, Cupido
cresce, mas volta a ser menino quando Anteros o deixa. É uma alegoria cujo
sentido é que o afeto necessita de ser correspondido para desenvolver-se. Cupido era frequentemente considerado um civilizador que
soube mitigar a rudeza dos costumes primitivos.
A arte apoderou-se dessa ideia,
apresentando-nos os animais ferozes submetidos ao irresistível poder do filho
de Vênus. Nas pedras gravadas antigas vemos Cupido montado num leão a quem
enfeitiça com os seus acordes; outras vezes atrela animais ferozes ao seu
carro, após domesticá-los, ou então quebra os atributos dos deuses, porque o
universo lhe está submetido. Não obstante o seu poder, jamais ousou atacar Minerva e
sempre respeitou as Musas.
Cupido é o espanto dos homens e dos deuses. Júpiter, prevendo os males que ele causaria, quis obrigar Vênus a
desfazer-se dele. Para o furtar à cólera do senhor dos deuses, viu-se Vênus
obrigada a ocultá-lo nos bosques, onde ele sugou o leite de animais ferozes.
Também os poetas falam sem cessar da crueldade de Cupido: "Formosa Vênus,
filha do mar e do rei do Olimpo, que ressentimento tens contra nós? Por que
deste a vida a tal flagelo, Cupido, o deus feroz, impiedoso, cujo espírito
corresponde tão pouco ao encantos que o embelezam? Por que recebeu asas e o
poder de lançar setas, a fim de que não pudéssemos safar-nos dos seus terríveis
golpes?" Cupido inspirou encantadores
trechos a Anacreonte: "No meio da noite, na hora em que todos os mortais
dormem, Cupido chega e, batendo à minha porta, faz estremecer o ferrolho:
"Quem bate assim? Exclamei.
Quem vem interromper-me os sonhos cheios de
encanto? - Abre, responde-me Cupido, não temas, sou pequenino. Estou molhado
pela chuva, a lua desapareceu e eu me perdi dentro da noite." Ouvindo tais
palavras apiedei-me; acendo a lâmpada, abro e vejo um menino alado, armado de
arco e aljava; levo-o ao pé da lareira, aqueço-lhe os dedinhos entre as minhas
mãos, e enxugo-lhe os cabelos encharcados de água. Mal se reanima: "Vamos,
diz-se, experimentemos o arco. Vejamos se a umidade o não estragou.
"Estica-o, então, e vara-me o coração, como faria uma abelha; depois,
salta, rindo com malícia: "Meu hóspede, diz, rejubila-te. O meu arco está
funcionando perfeitamente bem, mas o teu coração está agora enfermo."
Nossa, então realmente Cupido era também mal.
Cupido fere várias vezes sem ver, e dá origem a sentimentos que nem o
mérito, nem a beleza explicam suficientemente. Foi o que Correggio pretendeu
exprimir ao representar. Vênus prendendo uma venda sobre os olhos do filho.
Ticiano pintou o mesmo tema que se vê reproduzido com frequência na arte dos
últimos séculos. Cupido encarnava a paixão e o amor em todas as suas
manifestações. Ai de nós! Ai de nós se ele ainda existisse. Se você está
apaixonado e não sabe se é correspondido, acho melhor não procurar o deus do
amor, melhor tentar a sorte nas cartas! Ou cantarolar estúpido Cupido. “Hei, hei, é o fim. Alô, Cupido! Pra longe de mim”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário