Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Nem Sempre



Nem sempre estou pronta para este apocalipse de ideias, este vendaval de emoções desconsertadas, neste mar de sangrias desatadas que afronta minha alma, este tornado que gira em torno de mim, que me delata, me pune constantemente. 
Nem sempre estou pronta para batalhar na guerra dos sentimentos, me farpar, me cortar inteira, esbanjar meu sangue por aí, nesta cadeia insana e corrupta, neste mundo caduco que mora em algum, lugar aí fora de mim. 
Atormentada no meu próprio credo, acorrentada na minha própria estupidez, absurdamente descontraída, moldada como antigamente, sem ships, sem programação. Sou eu ainda por dentro, vestida completamente com sonhos galopantes, com vestígios apimentados, doida para abrir os olhos e voltar pra casa. Sonhar não tem me custado nada e crer que não posso ser perseguida ou atormentada por estes zumbis e vampiros que acoitam as noites, e este tem sido minha sina, minha crença em sair daqui, ainda estou viva e esta ponte pode me levar a ponte ao entardecer. 
Não poderei ser tola novamente em me atirar no abismo de contradições e medo. 
Sei que já não sou a amante preferida dos deuses ordinários deste tempo, e este duelo que travo neste além, entre a morte e a vida, entre o passado e o presente atravessando freneticamente em minha frente, esta batalha sem início certa já se apoderou do meu fracasso, me despertou tempos atrás, agora sou apenas uma simples humana com chifres, pele grossa e armas mortais. 
Nem sempre sou covarde em caminhar neste chão de mortos, há coisas mágicas em mim, que eu própria duvido e sinto que ainda tenho um colorido que me faz invisível as sombras de sofreguidão que me perseguem nestas noites frias e cinzas. Todas as outras vidas que vivi, todas as vidas que conheci, estão todas deitadas neste solo de espinho e chamas e tenho de tirar do peito todas as lembranças delas, não poderei atravessar com tantos segredos ainda trancado em mim. 
Nem sempre sou assim tão nua, tão completamente crua. Minhas veias ainda estão recheadas de pavor, não poderei entrar no paraíso com todo este sabor, com todo este contraste de fel, mel e enxofre.

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