Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

-- --> PIPER PA-22 TRIPACER PT-ZUE (Parte II)

“... Então eu mostrei que a capa do pitot estava no lugar e que eu tinha deixado lá de propósito. Chequei o tráfego, o vento e apliquei toda a potência, após a corrida normal ele saiu do chão e como combinado após alguns metros reduzi o motor e pousei deixando ele correr até o final da cabeceira 28.

Ao chegar no final da pista não sei bem porque resolvi checar novamente os magnetos, acho que com as corridas imprimindo toda a potência alguma vela que por ventura estivesse suja limpou e a queda voltou ao normal com o funcionamento bem redondo.

Enquanto estava retornando para a cabeceira 10 o telefone tocou, era meu compadre Ronaldo de João Pessoa, Ricardo assumiu o taxi, e eu disse-lhe que estava dando umas corridas na pista com o avião de pai e que ligaria depois, então ele desejou bom voo pensando que eu iria voar, mas na verdade eu não estava pensando em sair da pista até aquele momento. Durante o taxi comentei com Ricardo, agora está tudo funcionado normalmente, então ele disse -”. esse avião nunca negou fogo, vamos checar mais uma vez para confirmar? E se você quiser tiro a capa do pitot. Senti meu coração acelerar e a adrenalina tomar conta do meu corpo, então comecei a analisar a situação para poder tomar uma decisão.

Chequei os magnetos novamente e os mesmos permaneciam funcionando normalmente, chequei os comandos, seletora, vento mais ou menos aproado, coisa rara no Aeroclube de Campina Grande, e principalmente após esse pequeno voo sobre a pista, eu estava agora me sentido mais confiante para pilotar aquela máquina, mesmo depois de mais de cinco anos sem voá-la. Senti que aquele era o momento certo, tudo estava conspirando para que aquele voo desse certo. Então perguntei a Ricardo vamos lá? E meu companheiro de cabine que tem no seu sangue o vírus Aerocócus sem exitar disse - vamos lá, vou tirar a capa do pitot.

Enquanto ele foi retirar a capa, fiz uma rápida oração pedindo proteção ao criador e ao meu pai, para que ele me ajudasse na pilotagem, e que estivesse junto conosco passando toda a experiência que ele tinha naquele avião para que tudo desse certo. Ricardo entrou colocou o cinto fechou a porta checamos o tráfego, o vento e iniciei a decolagem pedindo para Ricardo observar os instrumentos, a qual depois da corrida normal se fez sem nenhuma anormalidade como sempre o fez.

Após os quatrocentos pés, recolhi o flap, efetuei a redução, verifiquei os instrumentos do motor, olhei para a esquerda e iniciei a curva para ingressar na perna do vento da 10 e permanecer no circuito de tráfego. Ao ingressar na perna contra o vento da cabeceira 10 a emoção tomou conta da cabine, sem darmos uma palavra e apenas olhando para o meu companheiro vi que ele estava assim como eu com os olhos cheio de lágrimas, pois estávamos voando a paixão do meu pai, aquele avião clássico que era a cara do verdadeiro Cmte. Gama. Apenas consegui dizer uma coisa, ele deve esta sentado aqui atrás conosco. No tráfego seguinte Ricardo apenas com gestos me pediu para pilotar o avião e compartilhar comigo aquele momento tão especial. Após completar mais um circuito ele me entregou os comandos e então prossegui para o pouso. Perna do vento próximo ao través da cabeceira 10 comandei um dente de flap reduzi a potencia e começamos o voo descendente, perna base checamos a final livre e então interceptei a final comandando o segundo e ultimo dente de flap, acho que pai estava mesmo conosco, pois a aproximação e o toque suave naquela bela pista de grama agora muito bem cuidada pelos colegas aviadores da aviação desportiva foi muito tranqüilo, como se eu estivesse voado o avião a pouco tempo. Após o toque enquanto o avião diminuía a velocidade Ricardo ainda tomado pela emoção começou a aplaudir e vibrar e eu o segui na comemoração, pois sabia que aqueles aplausos não eram pelo pouso que fiz e sim pelo significado da conclusão daquele voo que na realidade era uma homenagem ao meu pai.

Mais uma vez ao taxiarmos lentamente para o pátio a emoção tomou conta da cabine, apertei sua mão e agradeci por estar comigo naquele momento, pois Ricardo foi um dos grandes amigos que meu pai fez na aviação. Obrigado meu amigo, tenho o prazer de te-lo hoje como amigo tanto dentro como fora da aviação.

Após cortarmos o motor já haviam chegado várias pessoas e alguns colegas da aviação que preparavam seus aviões para fazerem seus voos de final da tarde. Ao desembarcarmos todos nos cumprimentaram e nos parabenizaram por ter colocado o ZUE novamente no seu lugar, que é a imensidão do céu. No dia seguinte fui logo cedo para o aeroclube e apenas na companhia do seu Louro fiquei toda a manhã lavando e tentando mudar aquela imagem que vi no dia anterior.

Acho que consegui, pois ao terminar verifiquei que o avião agora estava outro, fazendo parte do grupo de aeronaves que estão em condições de voo no hangar do Aeroclube de Campina Grande - SNKB. Deixo um forte abraço a todos, pedindo desculpas pelo texto ter ficado um pouco longo, mas não poderia deixar de registrar esse momento de muita emoção na minha vida. Como diz meu amigo Cmte. Jackson, muita saúde e paz para todos. Fernando de Castro Gama.”


Por: Cmte Gama (João Pessoa-PB)

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