Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que Conto ...By Sulla Mino --> O Homem que vagueia














Ele ainda vagava na cidade, na cidade de seus sonhos, na calada da noite negra e triste.

Perdido, continuava sua caminhada em passos lentos, recitando seus próprios versos de sofreguidão, poesia preenchida de desespero e angústia.

O soluçar era cruel das palavras em sua boca. A lua estava baixa, quase lhe tocando a cabeça. Afogava-se na garrafa de sua bebida predileta. O homem que não se sentia tão homem assim era um pouco de lesma, coelho ou ovelha perdida.

Os arredores somente ratos de velhos esgotos e buracos sinistros, parecidos com verdadeiros abismos, abismo seria um plano perfeito.

Em seu pensamento, somente uma necessidade de se transformar numa estrela, numa estrela brilhante, não como a lua estranha apontada no céu de hoje, o seu desejo era ser brilhante, tanto quanto os olhos dela, a moça que lhe arrancara coração do peito.

No centro da cidade, no meio da praça principal, a festa corria solta, o pisca-piscar das luzes coloridas davam um ar mais alegre a festa, todos em pares dançando aqueles passos freneticamente incorretos e desajeitados.

O homem ainda continuava no seu vaguear, o melhor moço da cidade mendigando, indo em direção contrária ao viver. Indo ao penhasco chamado desespero, o começo do fim, do seu fim. Um anônimo ambulante, perambulando nas alamedas, sem destino algum.

O que seus olhos viram, antes não fatigados, horas antes de sua caminhada, sua mera jornada, foram pequenas carícias, singelas apenas na face dela, a moça de seus delírios, um simples momento, um início de um romance, talvez, entre seu melhor amigo e a menina da sua infância, a mulher que hoje seria sua, para sempre.

Ele se afastava cada vez mais, este fugir vagaroso e ao mesmo tempo querendo ser pego rapidamente por policiais locais. O inferno começava em sua cabeça, era capaz ainda de sentir o cheiro dela, o perfume doce e do sangue fresco que tirou de sua cabeça.

E seu amigo? Este nunca foi. Nesta noite, somente esta noite, este homem é apenas um que por aí vagueia, no vômito da minha atitude demente.

Estar atrás de grandes grades de ferro não seria o bastante, seria formidável versejar num hospício...Ou morrer lentamente, não por este amor, este arrependimento que exalta e sim por esta bebida envenenada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acredito que o tema ciúme ainda é um dos que mais apaixonam. O ciúme misturado a esquizofrenia é uma arma letal. Os devaneios loucos justifica-se o ato? Ou será que apenas a mente produzidora de versos e olhares poéticos são capazes de enxergarem o óbvio que os pobres mortais não conseguem? O homem que se afasta querendo que o mundo se transforme naquilo em que ele pensa, é o mesmo homem que é capaz de não entender porque às coisas do coração acontecem.
Abraço,s
Raí

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