Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que conto ... Ela estava lá

Ela estava lá, naquela imensidão...Apenas os pequenos gritos miúdos soltos pelos cantos. Ela teve a chance de ir, de sair de si mesma e se jogar no mundo. Covarde, ficou naquele vazio, contemplando as próprias palavras, os próprios palavrões.

O seu futuro agora é incerto. Nem amores, nem manhãs ensolaradas na varanda. Se há ainda dentro dela alguma jovem, apenas as rugas dirão, com o tempo, este tempo que passa vagarosamente em nossa face.

A forasteira que tanto dizia ser, se acorvadou na hora de correr por aí, errante...Este é o desaprender das coisas poucas, onde a menina teme ser mulher.

Ela apenas se olha, num tipo de olhar profundo, se autocondenando, profanando palavras tolas, cuspindo letras tortas no chão. Ela ainda há de sofrer este turbilhão de sentimentos. Agora ela é mais do que devia ter sido e esse monstro que cresce por dentro, que aterroriza, que lacrimeja uma vontade, uma incrível vontade ainda tosca e leve, esse monstro que açoita o pouco que ainda resta ou que ainda sobra. Não há mais espantalhos soltos na noite fria, não há incrédulos roçando as coxas quentes, não há mantos, nem prantos agudos. Agora somente um ventre oco.

E o monstro que se apoderou daquele corpo jogado no escuro, ele cobre o tédio, a saudade, uma saudade que queima e que arde, que nunca termina ou vai embora. E ela ainda lá, presa entre o passado e o presente, fora de si, com a porta d’alma trancada.

E o amor que tinha, que ainda ousava doer, que cochichava no ouvido, se foi...Desmanchou-se, feito poeira. Só ela, a mulher esquizofrênica, só ela morria de medo de si e num destes impasses e loucuras, quis tirar a própria vida, morrer realmente seria mais fácil e lentamente melhor. E o silêncio foi a melhor maneira de lutar contra o próprio monstro, sem palavras, sem pensamentos, apenas um corpo lá no escuro, sem fome nem sede, provando do próprio veneno, brincando de morrer.

Num grito, numa razão desmedida, tudo acabara, bem depressa, rápido como tempestade, raios e trovões. O corpo jaz neste inferno de viver. O espírito, com asas e dentes afiados, com a pele grossa e seca, ele se apagou, como um toco de vela acesa que tenta iluminar um cômodo. Ela estava lá, ainda sem ela por dentro, mas estava lá. Esse é o amor, que vem e que vai...Hoje somente resta um cigarro aceso naquele quarto, lentamente se apagando.



* Imagem google.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Às vezes eu fico intrigado com as metáforas aplicadas na sua escrita. Tento, algumas vezes, elucidá-las, dar contornos a imaginação, porém esbarro em entrelinhas tão enraizadas que, por mais que a reflexão leve para determinado ponto, chega um momento em que tudo se esvai. Por exemplo: essa mulher que sofre por não ter tido coragem de aventurar-se no amor, sofre mais ainda por se achar menina para tanto, mas, que, de repente, vê o mundo passar diante dos olhos e, num relance, vê-se velha, estática, perdida em seus próprios sonhos de jovem devaneadora. O amor? Ele se foi, como se vai sempre quem deixa passar a oportunidade de ter bons momentos vividos. Entretanto, no final, o texto foge do controle e se partem em vários intertextos, várias conotações metafóricas. Assim, essa jovem mulher que pensou sonhar, agora apenas se deixar levar pelo tempo, talvez dando, de vez em quando, um sorriso nostálgico, lembrando aquilo que poderia um dia ter ganhado.
Abraço,s
Raí

Amanda cintra disse...

Vc escreve muito bem...fico viajando.Parabéns!

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