Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Balança balanço

Balança balanço, leve-me daqui porque a morte está na minha vista, eu a quero e sei que ela também me quer, quero fugir deste parque de diversão que é a vida, quero ir longe, pra longe daqui, pisar fora deste chão quente e pelo menos dar um passo fora deste círculo de terror e sair deste sobe e desce da roda-gigante, destas circunferências oscilantes sobre meu pesar.

Meu coração bobo está cansado de se arriscar ao pé do destino cruel que é o amor e nada simpático ao meu parecer. Enxugo lágrimas diárias em meu rosto e cubro um homem de preto com meu olhar diabólico todas as noites antes de dormir. Cubro meu ventre depois de ter feito sexo e agora peço desculpas por não ter sido seguro?

Quero ir para não forrar a cama que me deitei ontem à noite ou lavar a taça que deixei suja caída no chão do quarto, naquele carpete persa, retirar aquele vestido de seda que deixei em cima do abajur. Quero poder não poder querer nada.

Clama meu coração e chora ao mesmo tempo, insano e tolo, se soubesse que amar era assim não teria amado, não teria saído de casa tão cedo, pensei que fossem inabaláveis as façanhas do amor e agora o balanço quebrou, já estou próxima ao chão, numa altura que eu mesma escolhi, eu mesma calculei e que em toda a minha vida desejei.

Estou com o braço aberto, feito ave para levantar o primeiro voo ou me jogar. Amarrei o balanço na mangueira, o galho forte que dá para a entrada principal do quintal, a corda é nova e azul, minha cor preferida, o nó que fora dado é bem apertado, um marinheiro ensinou-me um dia.

Nenhuma razão poderá trazer-me de volta, outra vez ficar. A vida estava em minhas mãos e coloco-a no bolso. Não deixo um adeus, nem um sorriso, marcas de sangue deixarei. Crianças que sofrem caladas vivem assim, querendo não viver.

Debruço no vai e vem do balanço do meu corpo, no vem e vai desta infância, as lembranças estão vindo, todas ao mesmo tempo, eu vou e elas também. Um lento suicídio, jeito feliz de morrer, minhas pernas entrelaçadas por prazer.

O cabelo está bem preso com o laço vermelho da vovó, o vestido rendado, a melissa cor de rosa, estou pronta. A inocência passou rápido diante de mim.

Balança balanço a caminho do fim.

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