Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que conto ... Flor no alto do morro

A moça que conheci em um tempo passado, foi sugada pela terra, pela pastagem verde intensa do alto do morro, bem lá no alto. Ela não pode ressuscitar.

Para onde foi não sei, somente sei que não pode voltar, nem cedo e nem tarde. Embora eu tenha ficado minha manhã de domingo inteira embaixo daquela árvore, na espera louca dela aparecer, achando que seria um sumiço tolo, sem importância alguma.

Foi exatamente há 15 anos atrás que eu a conheci, uma mulher tão bonita e cheirosa, achei que fosse um breve sonho, uma fantasia pouca da minha cabeça, igual aos incríveis sonhos que tive na minha adolescência. Hoje tem uma flor solitária no chão daquele morro, uma única rosa de cor estranha que sustenta minh’alma.

Na noite em que eu a vi pela primeira vez, a tal mulher bonita e cheirosa, eu estava um tanto fora, no “mundo da lua” como dizem, uns relatórios na mente, uma reunião mal resolvida, indeciso em assinar meu divórcio. Quando eu estava lá, na mesa de sempre no Lord Bar, apreciando meu Conhaque favorito, ela se inclinou no balcão, pedia ao barman um Martine com muito gelo. Eu não olhei simplesmente por olhar, eu a olhei completamente, apreciando sua cintura fina, as belas curvas, o batom vermelho e seu belo cabelo de cachos pretos. Eu me apaixonei.

Foi uma espécie de paixão relâmpago, intensa. E ela caminhava em minha direção, com um bom rebolado, provocante e perverso, soltei um sorriso covarde e imbecil, o mesmo que eu sorria para a Aninha, na época da faculdade. Realmente eu estava apaixonado e daquele momento em diante eu não fui mais o mesmo homem e nada na minha vida foi igual.

Dormi muitas vezes com aquele corpo jovem, naveguei muitas vezes nas curvas pecaminosas dele e fui feliz, este mesmo corpo que hoje está preso na terra firme, no alto daquele morro. Tenho vontade de ir lá, arrancar aquela insensata flor e me atirar lá de cima. Noite passada nascera uma nova flor, de cor incerta, bonita e muito perfumada, a outra sumira, me aquietei, estou hipnotizado e sei que ela me afoita, esta flor maldita.

Por uns instantes de sábado não pude avistar o morro, o céu de fez nublado durante todo o dia, não pude fazer mais planos, calcular e planejar minhas manhãs do inverno com bons vinhos na companhia dela, a flor de cor estranha que namora comigo pela minha janela.

A mulher que me fez assinar tantos papéis no passado, todo sábado vem me visitar com seus paparicos como fazia com o Lúcio, nosso filho de 25 anos. Gosto das maçãs e do Conhaque que me traz escondido do Dr. Pedro, eu posso recordar dos beijos doces da mulher que um dia amei e a bebida amarga para esquecer o que sonhei.

Tão lindamente recordo os beijos que beijei...Hoje sou um homem que vivo na loucura do que eu mesmo criei, tenho uma enfermeira que é minha ex-esposa, mas feliz, muito feliz com minhas lembranças, porque ninguém morre de amor. E aquela flor do alto do morro que olha pra mim, não pode falar, aquela moça que conheci um dia, um dia vai me perdoar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei, simplesmente fantástico! Beijo

Anônimo disse...

Sim, Sulla, um relato, uma reflexão, um pensar sobre. Talvez, em devaneio, a alma seja capaz de se expressar dessa forma. Olhar-se em desatino de palavras e socorrer-se de bons e doces pensamentos. Porém, como no conto, o fim trágico de um querer quase fantasia. Bonito conto, Sulla!
Abraço,s
Raí

Josselene Marques disse...

Sulla:

Muito bom o seu conto. Parabéns!
O seu blog está cada vez mais rico de belas imagens e excelente conteúdo.
Feliz Dia dos Namorados e um ótimo domingo!
Abraço.
Josselene

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