Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Reflexão ...




“Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e

termina com um ponto final.

No meio você coloca as idéias”

[ Pablo Neruda ]




Doces palavras alimentam minh'alma, torno-me espinho e fogo, pétala solta e noviça. Tomo a noite como uma bela manhã de domingo, tenho ideias vivas e velhas palavras já mortas...
Sulla Mino


“Já me creio esquecido como estas velha âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta.
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.

Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.
Mas a noite enche e começa a cantar-me.
A lua faz girar sua arruela de sonho”

[ Pablo Neruda ]

Contos que conto ... Flor no alto do morro

A moça que conheci em um tempo passado, foi sugada pela terra, pela pastagem verde intensa do alto do morro, bem lá no alto. Ela não pode ressuscitar.

Para onde foi não sei, somente sei que não pode voltar, nem cedo e nem tarde. Embora eu tenha ficado minha manhã de domingo inteira embaixo daquela árvore, na espera louca dela aparecer, achando que seria um sumiço tolo, sem importância alguma.

Foi exatamente há 15 anos atrás que eu a conheci, uma mulher tão bonita e cheirosa, achei que fosse um breve sonho, uma fantasia pouca da minha cabeça, igual aos incríveis sonhos que tive na minha adolescência. Hoje tem uma flor solitária no chão daquele morro, uma única rosa de cor estranha que sustenta minh’alma.

Na noite em que eu a vi pela primeira vez, a tal mulher bonita e cheirosa, eu estava um tanto fora, no “mundo da lua” como dizem, uns relatórios na mente, uma reunião mal resolvida, indeciso em assinar meu divórcio. Quando eu estava lá, na mesa de sempre no Lord Bar, apreciando meu Conhaque favorito, ela se inclinou no balcão, pedia ao barman um Martine com muito gelo. Eu não olhei simplesmente por olhar, eu a olhei completamente, apreciando sua cintura fina, as belas curvas, o batom vermelho e seu belo cabelo de cachos pretos. Eu me apaixonei.

Foi uma espécie de paixão relâmpago, intensa. E ela caminhava em minha direção, com um bom rebolado, provocante e perverso, soltei um sorriso covarde e imbecil, o mesmo que eu sorria para a Aninha, na época da faculdade. Realmente eu estava apaixonado e daquele momento em diante eu não fui mais o mesmo homem e nada na minha vida foi igual.

Dormi muitas vezes com aquele corpo jovem, naveguei muitas vezes nas curvas pecaminosas dele e fui feliz, este mesmo corpo que hoje está preso na terra firme, no alto daquele morro. Tenho vontade de ir lá, arrancar aquela insensata flor e me atirar lá de cima. Noite passada nascera uma nova flor, de cor incerta, bonita e muito perfumada, a outra sumira, me aquietei, estou hipnotizado e sei que ela me afoita, esta flor maldita.

Por uns instantes de sábado não pude avistar o morro, o céu de fez nublado durante todo o dia, não pude fazer mais planos, calcular e planejar minhas manhãs do inverno com bons vinhos na companhia dela, a flor de cor estranha que namora comigo pela minha janela.

A mulher que me fez assinar tantos papéis no passado, todo sábado vem me visitar com seus paparicos como fazia com o Lúcio, nosso filho de 25 anos. Gosto das maçãs e do Conhaque que me traz escondido do Dr. Pedro, eu posso recordar dos beijos doces da mulher que um dia amei e a bebida amarga para esquecer o que sonhei.

Tão lindamente recordo os beijos que beijei...Hoje sou um homem que vivo na loucura do que eu mesmo criei, tenho uma enfermeira que é minha ex-esposa, mas feliz, muito feliz com minhas lembranças, porque ninguém morre de amor. E aquela flor do alto do morro que olha pra mim, não pode falar, aquela moça que conheci um dia, um dia vai me perdoar.

Caricatto 2010 em Mossoró-RN

Eu também participei do evento, minha caricatura ficou maravilhosa, valeu Túlio!!

“Caricatto”, segunda exposição de Túlio, reúne cerca de 120 caricaturas que retratam de forma bem humorada personalidades da cidade e Estado. Os trabalhos poderão ser vistos no Memorial da Resistência, em Mossoró. Túlio Ratto é hoje editor da revista do rio Grande do Norte Papangu e colaborador do programa Nabocadomundo, da Band. Até recentemente, ocupava a 1ª página do Novo Jornal com suas charges repletas de um ácido humor.





Poetisa Eloisa Helena e Túlio Ratto, valeu gente boa!!

Crônica por Sulla Mino...Samuel.

Mais uma madrugada passa longa. Eram duas da manhã. A chuva fina caída sem piedade, o céu ainda fechado, sem cor definida e o frio muito.

Sou apenas um homem que vasculha o sombrio das pessoas, deixo inquieto corpos que tentam dormir, mentes que pretendem desprender-se daqui, no momento do sono.

As pessoas desviam olhares de mim, caminham ao contrário na calçada para não serem vistas ao meu lado, sou invisível e carrasco.

Passo despercebido entre a multidão de um bairro, de uma rua, cães ferozes correm a mim, rosnam. Sou perseguido por cacos de vidro, produtos ácidos, hospitalares e nem assim me erguem algum valor ou bônus no final de cada mês.

Nunca recebi um sorriso, mesmo que distraído, acho que por causa da roupa suja que uso, ou das mãos calejadas. O suor no corpo conta muito também. Sou apenas um trabalhador, nada mais.

Tenho sentimentos, a mesma religião que muitos, tenho família e também uma vida social farta, quando estou no meu lazer, sou apenas mais um sem uniforme. O trabalho braçal não é visto com sutileza, triste e verdade. Sou um ignorante perante a sociedade e mais uma sombra que rodeia por aí no mundo.

Sou considerado especial para alguns, tenho data de aniversário no calendário, não sou estes alimentos, conserva usado no Oriente, nem nome requisitado no Judô.

Nesta mesma madrugada de frio e chuva fina intensa, depois de ter corrido metros atrás de um caminhão, no quarteirão da D. Sofia, encontrei no meio da pilha de lixo um lindo urso de pelúcia, entregarei aos cuidados da minha mãe, lavar e fazer uns remendos será novo novamente, um bom presente para ela.

Já estava cansado e fiz minha pausa habitual para uma água, fiquei uns instantes na lanchonete do Valmir e de lá pude contemplar a sacada da janela da Lívia, a mulher dos meus olhos, o meu sonho verdadeiro.

Lívia é a empregada de família há muitos anos, e posso no meu momento de folga e um tanto de solidão, avistá-la e dar com a mão somente um breve “chau”. Todos os dias a mesma rotina. Acho que ela não se importa com minha profissão, com o meu vai e vem, sempre solta um sorriso pequeno, meio tímido pra mim.

Já é dia, a chuva cessa por um tempo, novamente corro atrás do caminhão, faltam alguns quarteirões e já está chegando à hora de ir embora pra casa. Falta varrer a calçada da Dona Amélia e esta semana ainda aparar a grama perto da casa do Mauro. Conheço todos e ninguém sabe de mim.

Se soubessem que sou uma pessoa importante, que prezo pela limpeza do mundo e higiene de todos, saberiam pelo menos, com o amanhecer do dia dizer “bom dia”, já bastaria para eu continuar mais feliz. Um sorriso pouco como a Lívia faz, faria algum sentido. Sou tão intenso desde o tempo do império.

Estudo no horário da noite e faço curso de informática aos sábados, um dia terei coragem de me declarar à Lívia.

Sou Samuel, um gari da cidade de Villus e que também sonha.



15 de Maio-Dia do Gari

Trabalho apresentado pela Denice na UNP-RN

Poesia por Sulla Mino...Desnudo













Preciso de um tempo ou

o resto da vida para emprestar meu fingir

ao meu pensamento,

amando e não esquecendo,

chorando e sentindo saudade,

dizendo até já e não pensar no adeus...

Empresto lágrimas e palavras,

noites mal dormidas,

punhado e destroço de versos.

Temo meu pensamento aconchegar-se

em alguém anônimo e indiscreto,

intruso e deprimido,

numa aventura louca sob um comando

invisível,

ir no fundo como uma música gospel e

vê uma deusa sangrando...

Palpite do medo, nenhum pensamento

seria tão descalço,

preciso de um pouco mais de tempo,

para rabiscar pavor na minha sombra fardada.

Meu corpo desnudo jogado na poça,

indo à falência,

sinto a chuva caindo lentamente,

tento acordar e não consigo,

tento levantar e não sou forte,

não posso com o meu pensamento, prefiro desistir,

não preciso de tempo algum, nem fingir,

fecho meus olhos

e sei que agora Deus não dorme.

Poesia por Mário Rezende...MOÇA DOS OLHOS CINZENTOS II















Hoje, manhã bonita,
o passeio dos seus olhos
encontrou, por acaso, os meus.
Péssimo instante,
pois o meu olhar
jazia cansado e sem brilho
por uma noite mal dormida,
enquanto o dela
cintilava feliz.
Na certa, no lapso do piscar
perguntou aos seus botões,
por que será o olhar quase morto desse moço?
E, naturalmente, por ali não encontrar
o que na hora lhe agradaria,
desviou-se a procurar
algo mais interessante
para as pérolas do seu semblante.


mariorecanto@yahoo.com.br

Poesia por Sulla Mino...Avesso













O avesso das coisas incertas

me fez mutante...

E moldo meu corpo,

em mais uma tentativa sã.

Escrava, noviça,

carente e rebelde.

Então, explode o pavio

curto dentro de mim.

Abstrata e enigmática,

peço: Silêncio!

Gira o mundo,

Estou nele ao contrária.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...