Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que conto ...Coma

Torço para sair daqui e encontrar um beijo, um pecado, um morno abraço, um simples carinho...

Sei que me chamo Alba, me chamam assim desde o primeiro dia aqui e o meu pensamento de todos os dias, noites e madrugadas afora, pensamento tolo, é de estar perto do meu grande amor ou somente fora daqui.

Meu olhar mergulha em algum rosto, cobre o meu corpo, peço qualquer coisa pouca, um retorno.

Meu corpo ganha meu próprio leito, talvez minha morte devagar, bem lenta para ninguém perceber.

Meu todo sonha dormir enrolada nos braços dele, no homem que me fez sorrir por muito tempo, que me fez esquecer que o dia tem pouco tempo, que a lua que apontava no céu era só minha, as estrelas que brilhavam todas minhas e que eu podia ver da janela do meu quarto e poderia a guerra explodir lá fora, não me levantaria daquele momento, de qualquer momento quando eu estava com ele, de quando o mundo girava em mim e muitas vezes, girava só pra mim.

Meu coração já bate fraco, lento demais para eu tentar reagir a qualquer estupidez, já me sinto distante dos traços, nem sei se estou sonhando, meus olhos estão fechados muito tempo, tempo em que já não sonho, apenas fantasio, como uma loucura, um vício constante.

Tire-me daqui!

Penso no amor, como ele seria pra mim e como eu seria pra ele. Penso nele, todo segundo de minha dor.

Estas paredes me impedem de seguir além, correr por aí feito louca varrida, ou de pular, saltitar na areia da praia, como eu fazia quando criança... Estas pernas que não se movem mais, não me levam a lugar algum.

Só ele seria o meu melhor remédio, a gota de orvalho no jardim do meu paraíso, só ele tem o poder de me reverter, me recriar, se ele é meu amor, o que faço aqui?

Não sabem deste choro oculto que tenho toda hora, não perguntam sobre esta lágrima que molha meu rosto todas as manhãs e o vermelhidão dos meus olhos na noite que cai em mim, não querem saber da minha dor, esta que me corrói por dentro, uma dor calculada em aparelhos modernos.

Nove meses, eu poderia nascer e ao invés disto morro, por fora já não sou nada e aqui dentro de mim... Não sei o que há, alguém deve puxar os fios em breve.

Tire-me daqui!

A maca está fria, os bipes soam fracos e descompassados.

Tire-me deste coma, não quero morrer de amor.



Um comentário:

Anônimo disse...

Um inquietante relato sobre o que do amor. Sentir-se assim, em estado de coma devido à chegada de um amor indesejado ou, de um amor que se abre e se instala sobre outro amor é chegar-se em si e buscar, no eu interior uma razão para se entregar sem causar coma ao sentimento e ao corpo. Bem, essa a minha interpretação.
Beijos!
Raí

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