Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Crônica por Sulla Mino...Celso

Estou neste hospital há dois meses, o quarto meu fiel companheiro, as paredes frias me trazem lembranças... Sinto cheio de sangue e éter.

Resta uma notícia somente pra eu saber se vou para casa ou se fico nesta tortura insana de um quarto pálido.

Sou Celso, tenho 57 anos e tive sei lá o que e vim para cá, este asilo de corpos gelados. Acho que meu coração não é mais o mesmo e nem ao menos sei se preciso de alguma cirurgia ou talvez eu realmente tenha pouco tempo.

Às vezes, me sinto fora daqui, como num sonho, caminho por lugares que sempre quis ir quando menino, embora as calçadas diferentes e as árvores maiores.

Quando tomo meu remédio às dez da noite, vou ficando sonolento e quando me dou conta, estou lá... Lá de onde vim, do subúrbio de São Paulo, lá mesmo, naquela calçada de casas, brincando com meus amigos antes do jantar e quando me atento no que faço de melhor, um belo gol de bicicleta, me assusto com uma bela enfermeira conferindo minha pressão ou se meu coração ainda vive.

Todo dia é assim mesmo, viajo em minha própria imaginação, muitas vezes cenários estúpidos de minha mente vazia.

Num belo domingo de sol forte e minha cabeça sã, tive uma idéia para amenizar meu gosto, embora penso ter tido outro sonho:

- Bom dia, é da recepção? Eu gostaria de falar com alguém que me desse informações sobre um paciente. Queria saber se certa pessoa está melhor ou piorou...

- Qual e o nome do paciente? A voz suave da enfermeira do outro lado soou.

- Chama-se Celso e está no quarto 302.

- Um momentinho, vou transferir a ligação para o setor de enfermagem...

- Bom dia, sou a enfermeira Lourdes. O que deseja?

- Gostaria de saber as condições clínicas do paciente Celso do quarto 302, por favor!

- Um minuto, vou localizar o médico de plantão.

- Aqui é o Dr. Carlos plantonista. Em que posso ajudar?

- Olá, doutor. Precisaria que alguém me informasse sobre a saúde do Celso que está internado a dois meses no quarto 302.

- Ok, meu senhor, vou consultar o prontuário do paciente... Um instante só! Hummm! Aqui está: ele se alimentou bem hoje, a pressão arterial e pulso estão estáveis, responde bem à medicação prescrita e vai ser retirado do monitor cardíaco até amanhã. Continuando bem, o médico responsável assinará alta em três dias.

- Ahhhh, Graças a Deus! São notícias maravilhosas! Que alegria!

- Pelo seu entusiasmo, deve ser alguém muito próximo, certamente da família?

- Não, sou o próprio Celso telefonando aqui do 302!

É que todo mundo entra e sai deste quarto e ninguém me diz nada.

Eu só queria saber como estou...

Foi um domingo tranquilo, a noite não tive pesadelos e minha vontade de voltar para casa tinha aumentado, meu coração já batia melhor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boa!!

Bj.

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