Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que conto...Elevadores da Rua 15


Lá está o prédio velho da Rua 15 no bairro de Gerion...

Um prédio antigo, a pintura precária e acabada pelo tempo, esquecido pelos arquitetos e abandonado pelos pedreiros...

Os elevadores, daqueles com grades que nós mesmos manuseamos para fechá-los e quando fecham. Pelo menos uma vez por semana eles param de funcionar por uma hora, e os felizardos desta vez eram Dênia e Mário.

Dênia, moradora do 12º andar, uma jovem de 22 anos, seus cabelos tingidos de loiro, roupas exageradamente curtas, piercing no umbigo, desempregada, sustentada pela mãe, além desta jovem ficar horas ao telefone, passa as tardes ensaiando coreografias para as festas nos fins de semana, de preferência Bailes Funks e sabendo da rotina do seu vizinho de baixo, aí que insistia em passos que batessem bem com os pés.

Já o Sr. Mário, o vizinho do 11º, gosta mesmo de sua vida vazia e sem graça, da sua solidão e não gosta muito de ser incomodado. Aposentado e sem ter muito que fazer, Mário passa horas de sua vida lendo seus fiéis livros de Literatura, nos fins de tarde um bom chá de Cidreira e beirando à noite nada melhor que assistir ao Jornal.

Mas, quem disse que tem sido possível? Mário não agüenta tanto barulho da vizinha, não tem conseguido se concentrar em suas leituras e não consegue mais estar no vazio de seu apartamento.

Então resolve tomar satisfação com sua adorada vizinha e esta resolve no mesmo momento perturbar a paz de Sr. Mário, quando um dos elevadores desce, já com Dênia dentro, Mário entra e aí começou a sem inibição alguma, um tremendo bate papo, mais para “bate”, do que “papo”, o elevador resolve parar no 8º andar... Pronto! Prato feito para quem quer discutir...

Dênia sem vergonha nenhuma disse que o velho, além de ser velho, é um idiota, por ficar trancado num apartamento minúsculo lendo livros velhos e enquanto ela é feliz, sai nos os fins de semana, beija muito, arrasa nas suas coreografias nas festas, está sempre ligada nos papos modernos e ouve as melhores músicas todos os dias no rádio.

- E você?

Perguntava ela...

- Só sabe reclamar do barulho, do rádio alto, bla, bla, bla...

Sr. Mário se defende dizendo:

- Não sou cruel comigo mesmo, não me sujo no mundo, não perturbo a vida alheia, não sou o submundo, nem o avesso das coisas, não finjo ser feliz e nem perco meu tempo dançando para platéia nenhuma.

Uma hora depois.

Resolvido o problema no elevador, Dênia vai para seu apartamento com todas as palavras do Sr. Mário em sua cabeça. Se pos a chorar e percebeu como sua vida era sem graça e inútil, que perdia seu tempo para coisa alguma, Dênia não era suficientemente inteligente para entender o que o vizinho dissera, então, pela manhã, tomou uma dose de veneno, pegou um livro de Literatura antigo, foi até o apartamento de Mário, só que o elevador parou com Dênia dentro e o veneno começando a fazer efeito.

Sr. Mário, depois de passar a noite pensando no bla, bla, bla da vizinha, viu que realmente sua vida era vazia e sem graça, que precisava fazer alguma coisa alegre e diferente, então pela manhã, pegou o outro elevador para ir ao apartamento de Dênia e contar a boa nova, dentro do elevador, ele dançava e cantava para platéia nenhuma.

O elevador mais uma vez parou.

Os dois elevadores parados...

Nenhuma platéia...

Dênia com o veneno tomando conta e seu corpo debruçado sobre o livro.

Sr. Mário no outro elevador dançando “Crew, Crew...”.


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