Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Por Sulla Mino...Contos que conto...Catarina


Ela chegou desconcertada na sala de estar, ajeitou a mobília, aspirou o pó, trocou o cortinado. Certificou se os objetos estavam posicionados nos mesmos lugares de antes, de semana passada.
As quartas-feiras sempre eram intensas...
As roupas no cesto para serem engomadas no final do dia, o banheiro já estava com o ladrilho branco e cheiroso as onze da manhã, a louça e a prataria lavadas e guardadas e Totó tinha dado o passeio matinal pelo quarteirão.
Ainda os quartos, o quintal, a varanda para serem arrumados e varridos.
A TV ligada no canal do seriado, de passagem de um cômodo para o outro, uma olhadela rápida para não perder o assunto, uma pausa para ajeitar o lenço na cabeça, retirar a luva das mãos no intuito delas respirarem um pouco.
Três da tarde... A casa “clean”, a blusa manchada e empoeirada de um dia de faxina, a dor de cabeça diária já apontava no lado esquerdo do cérebro.
Pegou o envelope preso com um ímã na geladeira, seu pagamento semanal, colocou na bolsa que ganhara da patroa, apagou as luzes, deu voltas na chave da porta, segue ao ponto de ônibus.
O primeiro carro perdeu, devido o atraso pouco, quarenta minutos depois, sobe no 438 rumo centro e de lá ainda o trem. Aquele cochilo básico batendo a cabeça no vidro da janela e lá fora a chuva fina cai no asfalto ainda quente do dia.
Oito da noite... Ela chega à sala de estar da própria casa, certifica se a mobília ainda está lá, não houve roubo, a poeira ela deixa para o dia seguinte, com o corpo cansado e com o sono no rosto, segue para a cozinha preparar o jantar. Ainda dever de casa com as crianças, depois retirar o cheiro de cebola das mãos para o marino não reclamar...
A avó faz o papel da mãe durante o dia, menos feriados, o marido não dormiu em casa, mais um plantão.
Trim... O despertador soa quatro da manhã, pó de arroz para disfarçar as olheiras, Catarina se apressa para “tomar” a van até a Estação de trem, hoje tem a casa da Dona Berenice.

2 comentários:

Josselene Marques disse...

Sulla:

É a dura realidade de milhares de mulheres pelo mundo afora.

É muito bom passar por aqui.
Um excelente domingo.
Abração.

EB disse...

O cotidiano retratado de forma tão poética ameniza a dureza do cotidiano. Parabéns mais uma vez. Abraços.

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